domingo, 6 de dezembro de 2009

Ficção e realidade: trágico

Em Terra Sonâmbula, romance de Mia Couto, percebemos um cenário de devastação marcado pela guerrilha moçambicana do pós-independência. Recebo esta imagem por e-mail e vem a minha cabeça a associação que existe entre a narrativa de Mia, Moçambique e o Rio de Janeiro. Pena ser esta a ligação que me ocorre agora, mesmo.



“As paredes, cheias de buracos de balas, semelhavam a pele de um leproso.” (Terra Sonâmbula, Mia Couto - p.23) --> a doença da guerra é aquela que simula a forma de buracos deixados pelas balas das armas e pelas minas - associação entre a terra moçambicana e corpo esburacado de um leproso.

Cada tiro deste é uma chaga aberta em mim.
***Tá estranha a sintaxe do texto. Parece reticente, tá mal escrita mesmo. Fiquei perplexa e nesses momentos não sei escrever.





terça-feira, 17 de novembro de 2009

A LOUCURA

A loucura não é problema, ao contrário, é o modo como o homem consegue lidar com a realidade de modo menos traumático. E, embora pareça um contrasenso justamente por isso, é a própria falta de sentido a responsável pela beleza da insanidade mental.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

PARA UMA AUSÊNCIA DE FILOSOFIA

"Nada sabemos do desejo, apenas que ele se cristaliza em imagens." (Octavio Paz)

Basta-nos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

De blog para blog!

DESENCANTO (JOSÉ SARAMAGO - in: O caderno)
Todos os dias desaparecem espécies animais e vegetais, idiomas, ofícios. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Cada dia há uma minoria que sabe mais e uma minoria que sabe menos. A ignorância expande-se de forma aterradora. Temos um gravíssimo problema na redistribuição da riqueza. A exploração chegou a requintes diabólicos. As multinacionais dominam o mundo. Não sei se são as sombras ou as imagens que nos ocultam a realidade. Podemos discutir sobre o tema infinitamente, o certo é que perdemos capacidade crítica para analisar o que se passa no mundo. Daí que pareça que estamos encerrados na caverna de Platão. Abandonamos a nossa responsabilidade de pensar, de actuar. Convertemo-nos em seres inertes sem a capacidade de indignação, de inconformismo e de protesto que nos caracterizou durante muitos anos. Estamos a chegar ao fim de uma civilização e não gosto da que se anuncia. O neo-liberalismo, em minha opinião, é um novo totalitarismo disfarçado de democracia, da qual não mantém mais que as aparências. O centro comercial é o símbolo desse novo mundo. Mas há outro pequeno mundo que desaparece, o das pequenas indústrias e do artesanato. Está claro que tudo tem de morrer, mas há gente que, enquanto vive, tem a construir a sua própria felicidade, e esses são eliminados. Perdem a batalha pela sobrevivência, não suportaram viver segundo as regras do sistema. Vão-se como vencidos, mas com a dignidade intacta, simplesmente dizendo que se retiram porque não querem este mundo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O 'Curriculum Mortis', de Leandro Konder

É relativamente fácil o sujeito ficar apontando as deficiências e falhas dos outros, atribuindo aos seus interlocutores a responsabilidade exclusiva por tudo que não deu os resultados previstos e esperados.

O difícil é reconhecermos nossa própria relatividade e admitirmos que aquele que diverge de nós - por mais equivocado que nos pareça ser - em algum ponto pode ter razão.

Quando se recusa a reconhecer a possibilidade de estar errado, o sujeito cancela as lembranças desagradáveis das besteiras que fez (que todo mundo faz) e ficam na sua alegre recordação somente os títulos de glória, o registro dos acertos, o elenco das vitórias.

Isso é claramente visível numa peça que todos conhecemos, que somos obrigados a apresentar quando nos candidatamos a um emprego ou a uma promoção, a um curso ou a uma bolsa: o chamado curriculum vitae.

O curriculum vitae é, atualmente, um sucessor remoto da antiga epopéia. Os obstáculos encontrados ao longo do caminho só são lembrados para realçar a história de um herói, que supera todos os obstáculos, vence todas as batalhas.

Evidentemente, como ninguém é assim, o relato não é convincente, a pretensa epopéia é fajuta. Pelo que diz e sobretudo pelo que não diz, o curriculum vitae é uma mentira.

Numa época de campanha eleitoral, o fenômeno ganha proporções espantosas. Os candidatos a cargos eletivos falam de seus méritos como se estivessem próximos da perfeição. Se o leitor tiver a paciência de ouvi-los, poderá pensar que são santos, aguardando a canonização. Ou que são heróis mitológicos descansando após a última batalha (vitoriosa, é claro!) contra o dragão.

A verdade está longe dessa imagem demagógica. Uma certa modéstia metodológica nos ensina: somos todos aquilo que somos não só pelos sucessos, mas também pelos fracassos. Cada um tem seu lado luminoso e seu avesso sombrio. E aprendeu alguma coisa com ambos.

Ai de nós, se cedermos à tentação de só conservar conosco as lembranças que nos afagam! Ao rememorarmos nossas trajetórias, somos desafiados a superar o conforto das amnésias convenientes e precisamos digerir tudo aquilo de que participamos e que não tem dado certo.

Essa atitude, porém, ainda é rara. Os indivíduos, em geral, preferem a feira das vaidades. O que levou o poeta Fernando Pessoa a escrever no Poema em linha reta o verso famoso: ''Nunca conheci quem tivesse levado porrada''. Todos os seus amigos - queixava-se - eram príncipes, semideuses, campeões em tudo.

Muitas pessoas desenvolvem uma habilidade especial para transformar a autocrítica num auto-elogio. Muitos anos atrás, uma jornalista perguntou a um político - Carlos Lacerda - qual era o maior erro político que ele admitia ter cometido. O entrevistado respondeu que seu maior erro político era o que o deixava isolado quando dizia as coisas mais importantes e verdadeiras antes que as pessoas tivessem tido tempo suficiente para compreendê-las. Ele se declarava, então, vítima da rapidez da sua inteligência.

Habilidade e esperteza, contudo, não têm o poder de destruir a dura verdade que nos ensina: mesmo numa vida humana bem-sucedida, cheia de êxitos - mesmo na vida de um campeão mundial - existe sempre um alto coeficiente de fracassos e derrotas.

Se reconhecermos isso, passaremos a dispor de um interessante instrumento para a avaliação da sinceridade dos que procuram nos impressionar com a frenética exibição de seus triunfos. Podemos pedir a cada um deles que, paralelamente à apresentação do curriculum vitae, nos mostre, também, o que seria o seu curriculum mortis.

Teríamos, lado a lado, informações do tipo: ''fui o primeiro da classe no colégio'' e ''meus colegas me elegeram o mais chato da turma''; ''ganhei um prêmio literário aos 20 anos'' e ''meu pai era o patrocinador do concurso''; ''sempre permaneci fiel ao mesmo partido'' e ''careço completamente de independência''.

Desafiados a apresentar os dois currículos, como se sairiam os atuais candidatos a cargos eletivos? Que impressão produziriam nos eleitores? Conseguiriam nos trazer uma imagem de sinceridade? Assumiriam francamente seus erros? Ou procurariam fazer como Carlos Lacerda: tentariam fazer dos defeitos qualidades?
cadernob@jb.com.br
[13/JUL/2002] - Jornal do Brasil

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Expectativa pouco expectorante

Queria que a expectativa pudesse desobstruir minhas vias respiratórias. Não tem acontecido isso e elas tem deixado uma placa pouco agradável em meus pulmões, impedindo que, efetivamente, o ar corra de modo mais agradável.

Sabia, inclusive, que isso aconteceria, mas, mesmo assim, tomei chuva e me coloquei a céu aberto. Agora, depois da chuva passada, fica o cheirinho bom do pós-chuva, mas a certeza amarga de uma saúde debilitada.

Diante dos fatos, percebo que a via de/que escape parece irremediável, ainda mais, porque dependo de remédios que, honestamente, não parecem solucionar o caso. Gosto de pensar que estou em um momento de estabilização patológica, embora tenha a ligeira sensação de ofegância que perfaz um cansaço, mas a confiança de que algum medicamente vai solucionar o caso doentio. Talvez não a patologia em si, mas o agente viral causador dela.

E, na hipótese de solucionar, espero não ser contemplada com a surpresa de que o vírus sofreu mutação, de que se encontra mais resistente e, portanto, pronto para atacar novamente. Se isso acontecer, prometo estar já com "anti-corpus" suficiente para o combate do que chamo ex-pectus (fora do peito).

quarta-feira, 2 de setembro de 2009





Fotografando-me

“Se pudesse narrar com palavras, não necessitaria de uma câmera atrás de mim” (Lewis Hine)
Eu diria " se pudesse narrar com palavras os sentimentos, não necessitaria da literatura para metaforizar minha alma ou o meu mais desconhecido segredo".

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O silêncio que grita!

Algumas vezes o silêncio é assim: cortante, constante, amante e, portanto, pulsante. Representação máxima do que nem a linguagem consegue dizer. Ele é apenas. Nada de imitações e "como se". Antiteticamente, resulta do que se sente, passa pelo grito e diminui hiatos entre sujeitos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

POEMA DA NECESSIDADE - Carlos Drummond de Andrade

É preciso casar João,
é preciso suportar, Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

"A menos que você acredite que macaco pinta, meu bem!"

Bárbaro. Em todos os sentidos possíveis e, para ser mais exata, explorando ao máximo a máxima do Lacan de que o símbolico é dotado de um duplo sentido. Assim me encontro diante de uma frase ilustre que alguém, digamos, da psiquê humana (ou do macaco) falou para alguém que só tinha um questionamento a fazer.

Engraçado mesmo é como ainda as pessoas trazem tanto de seu instinto para o convívio da linguagem. Vejamos: o que diferencia o homem dos animais é a palavra, a possibilidade de tentar expressar por algo, que não é corpóreo, o que penso. No entanto, acho que ainda "alguns" que se dizem entendedores da psiquê conseguem mostrar como "abanar o rabinho" ou "rosnar" são atividades corporais mais interessantes.

Estava bem, concentrada, até que fui tomada pela fala (ou latido) de alguém que se sentiu indignada porque o outro não sabia. Mas, pelo que me lembro, o Lacan sempre deixou claro que o analista deve se colocar no lugar do não-saber. Contradições da prática no pós teoria. Definitivamente, uma barbaridade analítica!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

INTERNAÇÃO (Ferreira Gullar)

Ele entrava em surto
E o pai o levava de
carro para
a clínica
ali no Humaitá numa
tarde atravessada
de brisas e falou
(depois de meses
trancado no
fundo escuro de
sua alma)
pai,
o vento no rosto
é sonho, sabia?
Teria muito para dizer. Prefiro calar.

Ti/It

“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida.” (C.Lispector)

A vida sempre nasce com um sim. O problema é que, algumas vezes, as pessoas não têm consciência disso e, preferindo viver mortas, sofrem e se angustiam. Mas o pior do pior são aquelas que são infelizes e forjam uma felicidade só porque há alguma dor psíquica que as impede de chegar a gozar do efetivo desejo que possuem. Dizer sim é mais do que o ato, é a crença de que ele representa o início, as infinitas possibilidades, o mundo que só apresenta uma certeza: o desejo do sujeito.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Ultimamente, a gripe suína tomou conta do mundo e o mundo tomou conta da gripe suína que, por sinal, tem um nome muito interessante: Influenza A. Se, por um acaso, a nova doença tratasse de “Influenciar Amor” bem que ela poderia contaminar o mundo inteiro. O que espero fielmente é que algum cientista em sã consciência também revele ao mundo que as pessoas estão infectadas por um vírus bastante ameaçador – a falta de amor. E, o pior é que esse perigoso vírus mata tanto quanto a gripe." (BLOG DA VIVI)

É. O amor. Certamente, eu inventei este vírus em minha vida; deixei que fosse portadora dele e que manifestasse a doença mesmo, para que pudesse refleti-la e para que o objeto refletido pudesse fazer assim com os outros, um processo em cadeia. A Vivi é uma dessas pessoas que amo, uma dessas que refletem amor e que são portadoras do melhor vírus que existe.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Para refletir uma sociedade anti-heróica

“Menino de 12 anos morre ao salvar amigo de seis em Belém
Plantão 04/08 - Jornal Nacional
BELÉM - Um menino de 12 anos foi enterrado nesta terça-feira em Belém, no Pará, como herói. Ele morreu tentando salvar a vida de um amigo. Segundo a polícia, no domingo, três bandidos chegaram nesta rua atirando. Queriam matar um homem que tinha impedido o bando de roubar um celular. Crianças brincavam na rua quando os bandidos começaram a atirar. Ao perceber o perigo, Emerson Gomes, de 12 anos, correu e usou o próprio corpo para proteger um dos amiguinhos, um menino de seis anos. Emerson acabou baleado e morreu.”

Esta é uma história chocante. Digo isto, porque ficamos paralisados diante de uma atitude imediata tomada pelo menino de 12 anos. De fato, é surpreendente essa doação, já que normalmente agimos em benefício próprio.

Trata-se, sobretudo, de uma atitude bastante condizente com as histórias românticas e seus heróis. Afinal, em um universo de pessoas que se dizem românticas, é só assim mesmo que vemos atitudes heróicas: na literatura do século XIX. Aliás, continuam levando, de fato, a sério essa atitude vanguardista de acabar com o que é tradicional e, portanto, deixamos de lado atitudes como esta.

Como uma contradição de valores, a Globo mostrou uma reportagem do ilustre herói Felipe Massa que se recuperava de seu acidente. A verdade é que a matéria foi tão interessante e pareceu tão mais nacional que, enquanto a do menino durara, no máximo, 2 minutos, a do herói automobilístico durou uns 10. Ainda que quantidade não seja sinônimo de qualidade, neste caso, tenho minhas dúvidas. Verdade seja dita, não acho que o telejornalismo global deveria se ausentar das notícias sobre o piloto, embora esteja convicta de que saber “o que ele vai fazer ao chegar ao seu lar depois de sua recuperação” é bastante demais. Mas, não tanto, se lembrarmos que o que dá IBOPE mesmo é estar diante da TV e torcer pelo piloto que ganha milhões e leva, aparentemente, o nome do Brasil financiado por uma empresa vermelhinha de origem italiana. Imagino, até mesmo, a indiganação de José Saramago com o falso uso da cor que tanto movimentou sua vida marxista.

Embora a palavra herói no dicionário tenha como significado “aquele que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem” - assim como a atitude do menino- , bem como “indivíduo notabilizado por suas realizações” – assim como a do menino e do F. Massa - , prefiro acreditar que ainda saberemos valorizar, de fato, atitudes dignas de méritos de atitudes pseudo-heróicas. Afinal, a literatura tem muitos heróis que poderiam estar bem encaixados na realidade universal, resolvendo ou, quem sabe, lutando por valores mais humanos e reais, bem distantes do mundo da verossimilhança.

Limpeza da alma!

Abri o Jornal O Globo hoje e me deparei com uma notícia cujo título era "Os espíritos de porco". Conseqüentemente, pensei na sujeira em geral e, mais especificamente, na falta de limpeza da alma.
Lendo a matéria, revivi momentos ímpares de infeliz moradora do Rio de Janeiro que "continua lindo". Pensei, portanto, em situações experienciadas pelo caminhar nas ruas da cidade. O pior é que não adianta pensar em sair de casa sem ter a sujeira a seu lado, pois ela já faz parte do espaço carioca. Inclusive, é estritamente necessário pensar duas, três, "n" vezes antes de escolher, por exemplo, um sapato para a rotina exaustiva do cidadão carioca, afinal, a escolha errada pode trazer alguma doença de pele que, por uma questão óbvia, não é culpa de ninguém. Aliás, nunca é. No entanto, minha imaginação flui e consigo, então, pensar que o agente da falta de limpeza, o FL-09, do Planeta da Sujismundâcia, paira sempre aqui na Terra, mais especificamente no RJ, para zombar dos habitantes daqui.
Depois de 40 anos, a Comlurb resolve fazer uma campanha com seu personagem já conhecido dos cariocas mais experientes: o Sujismundo. Logicamente, este bonequinho terá a intenção de conscientizar o povo da metrópole para este problema. Uma contradição: um povo que se sente bastante desenvolvido, independente e adulto, carece de algo bastante infantil - o momento em que as histórias em quadrinhos darão conta de educar, ludicamente, o povão já tão educado que prefere voltar-se para si e esquecer o outro. Quem sabe, assim, esta prática pedagógica não resolve os problemas do Rio?!? Mas, a educação já é tema para uma outra conversa.

Saiba, o ludismo é a solução!

Ouvindo a música “Saiba” do Arnaldo Antunes, na voz de Adriana Calcanhotto, notei como ela tem um saudosismo gostoso que nos embala, musicalmente, como nenéns. Sinto-me diante de uma canção que nos pega no colo e nos transporta para o mundo do imaginário infantil - um lugar cheio de histórias a serem contadas, a partir de mundos criados.

Notamos uma voz poética suave que se torna forte ao listar o nome de figuras célebres. Fica até difícil criar em nossa mente a imagem desses personagens diante de um tom tão delicado. Cabe lembrar, no entanto, que delicadeza e força não são palavras opostas. Acho, inclusive, que quanto maior a delicadeza, maior a força, maior a possibilidade do ludismo, que deveria ser tão buscado por homens vigorosos como os da música.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Princesas decaídas!

Cinderela bêbada e solitária!

Chapeuzinho vermelho muito obesa por conta dos fast foods excessivos!


Branca de neve com filhos e entediada com um marido nada maravilhoso!



Literatura de cordel


Bela xilogravura e pude apreciá-la em uma exposição no Centro do RJ. Obviamente, eu me identifiquei com a reprodução acima, primeiro por conta do tema e, em segundo momento, pelos desejos, angústias da analisanda diante da analista que, honestamente, parece bem desanimada ao ouvir a paciente. O melhor de tudo: o consultório é bastante artesanal e bem deflagrador de um ambiente rústico, definitivamente amei o divã e os móveis feitos de palha!!!

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eros, Psiquê e Voluptas

Estava lendo mais uma vez esta lenda e mais uma vez ela consegue me paralisar em cada detalhe mítico. Engraçado como as coisas só fazem "chuá" no a posteriori como nos disse S. Freud. Apenas tenho condição de dizer que ela mexe sempre muito comigo e, com certeza, porque tem algo de identificação.
Me interesso mesmo por mostrar como é estar imóvel diante de algo tão metaforicamente perfeito, que engloba conceitos literários e analíticos: eros, psiquê e prazer. O triângulo perfeito. Pensando que o prazer é filho de Eros e Psiquê, muitos conceitos psicanalíticos passam pela minha cabeça e, depois de ler o poema de Pessoa ainda... nossa! só esperando o "chuá" mesmo, porque, por enquanto, só definindo como Belo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Travessia

Dois bancos no jardim à espera de ocupação. Mais ou menos assim, a menina Joana disse ao seu regador de estimação. Era um regador bonito, embora não suprisse tanto a necessidade daquela que queria mesmo era conversar, apenas falar e, para isso, aquele objeto servia. Descobrira que ele era experiente e que já vivenciara situações muito inusitadas em sua vida. Por isso gostava dele. Diante da realidade estranha daquele objeto bonito-experiente, Joana pensou em torná-lo mais do que um objeto, mas O objeto. Afinal, na falta d’ O objeto, o objeto servia. No lugar do que nunca houve, colocar um regador poderia ser interessante, ou proveitoso.
Passaram dias e Joana intensificava sua relação com ele. Deixara de olhar o jardim e também os bancos. Começou a perceber que sua vida era mais agradável ao lado do regador. Logicamente, ela possuía outros objetos, mas este era aquele do qual ela mais gostava. Percebeu mais: estar longe dele era estar como aqueles bancos, à espera de ocupação. Pelo menos, o regador a ocupava. Era só colocar mais água para molhar as plantas que lá estava novamente o objeto diante daquele sujeito. Ela colocava sempre água, porque sabia que seria assim o momento de conversar com ele.
A conversa foi se estendendo e, por descuido, a menina deixara o regador cair. Quebrou-o e angustiou-se porque sabia que, mesmo sendo algo sem-vida, era ele quem supria suas necessidades. Mas, devido a sua condição objetal, consertou-o e pôs-se novamente, como num ritual, a regar o jardim. A prática continuava, embora aquela cola visível a incomodasse. Mas, era possível superar incômodos, consertos e quebras. O que não podia era voltar a se sentir sozinha. E não se sentiu.
No jardim, finalmente um menino franzino sentou em um dos bancos. Acompanhada de seu regador, sentou-se no outro banco e deixou que o silêncio falasse por eles.

JORNADA 2007 - UM CASO DE AMOR PSEUDO RESOLVIDO

O USO DE PREPOSIÇÃO NAS ORAÇÕES ADVERBIAIS REDUZIDAS DE INFINITIVO
Mayara Neres Matos (PIBIC/UFRJ)
Orientadora: Violeta Virginia Rodrigues

Marques, Matos e Rodrigues (2006), ao estudarem as orações subordinadas adverbiais reduzidas, detectaram que, dentre as formas nominais do verbo, foram as de infinitivo que favoreceram maior número de ocorrências junto a preposições, destacando-se, como era de se esperar, em termos de uso, a preposição para, seguida de por, sem. As autoras investigaram um total de 1363 inquéritos orais e escritos dos séculos XIX e XX, 748 do PB e 615 do PE, que constituem o corpus do Projeto VARPORT. Dando continuidade ao trabalho, Matos e Rodrigues (2007) apresentam algumas justificativas para o uso das preposições como elementos capazes de ligar orações. Segundo elas, o uso das preposições como introdutor de orações reduzidas deve-se aos fatores sintático e discursivo. Nesses trabalhos, pretendeu-se mostrar que preposições se mostraram mais recorrentes ao introduzirem uma oração adverbial reduzida, bem como justificar sua presença nessas sentenças. Com base nesses resultados, objetiva-se, neste momento da pesquisa, utilizando-se o mesmo corpus, verificar nas reduzidas de infinitivo se 1) o uso das preposições está condicionado pela circunstância expressa pela oração adverbial; 2) se esse uso pode diferenciar o PB do PE; 3) se há um uso prototípico para uma determinada preposição. A análise dos dados seguirá, portanto, a orientação funcional-discursiva, ao analisar os usos das preposições que ligam orações, não apenas no nível da sentença, mas também, no nível do discurso. Os estudos que dão suporte teórico ao trabalho são os de Barreto (1999), Decat (2001), Poggio (2002) e Neves (2003).
Referências bibliográficas
BARRETO, Therezinha Maria Mello. Gramaticalização das conjunções na história do português. Salvador, UFBa, 1999. Tese de Doutorado.
DECAT, Maria Beatriz N. A articulação hipotática adverbial no português em uso. In: DECAT, Maria Beatriz N. et alii. Aspectos da gramática do português. Campinas, SP, Mercado de Letras, 2001.
NEVES, M. H. M. A extensão da análise dos elementos adverbiais para além da oração. In: Revista da ANPOLL, nº. 14, p.125-137. São Paulo, 2003.
POGGIO, Rosauta Maria G. Fagundes. Processos de gramaticalização de preposições do Latim ao Português. Salvador, Bahia, EDUFBA, 2002.

Inexatidão matemática!

Minha querida “it” à procura de seu “it”,
Suponho que sejamos muito mais linguagem do que qualquer “produto” que obedeça à lógica matemática. Esta sempre exige, procura e chega a um denominador comum, já nós, por vezes, tendemos a buscar denominadores um tanto incomuns, diferentes e até incompatíveis. Mas, nada disso é importante. A matemática realmente não nos apetece! É ciência exata e de “exatas” não temos nada.
Já a linguagem, essa sim é a nossa cara. Complexa, instigante, desafiadora, inquietante, às vezes obscura, outras vezes reveladora. Ora é fácil, bastando apenas decodificá-la, ora é difícil, levando-nos a um desejo repentino de afastamento que, por sinal, é passageiro, pois o fascínio é maior. O que nos atrai é o mesmo que nos aproxima”.
Sendo assim, não procuramos produtos, mas entrelinhas. Não queremos o que está dito, pronto ou visível. Desejamos o que está escondido, inviolável, impenetrável. As mil facetas de uma mesma face nos desafia. Buscamos o simples, mas adoramos o que é complexo. E, nessa eterna procura, nos encontramos. Vivian e Mayara. “Côncavo e Convexo”. Português e Literatura.
Desejo que as suas “procuras” sejam achadas, principalmente a do seu “it”, que logo logo chegará.
Gosto muito de você! Feliz dia do amigo!

Estreia acrobática!

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quandoLá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto,imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"