terça-feira, 4 de agosto de 2009

Para refletir uma sociedade anti-heróica

“Menino de 12 anos morre ao salvar amigo de seis em Belém
Plantão 04/08 - Jornal Nacional
BELÉM - Um menino de 12 anos foi enterrado nesta terça-feira em Belém, no Pará, como herói. Ele morreu tentando salvar a vida de um amigo. Segundo a polícia, no domingo, três bandidos chegaram nesta rua atirando. Queriam matar um homem que tinha impedido o bando de roubar um celular. Crianças brincavam na rua quando os bandidos começaram a atirar. Ao perceber o perigo, Emerson Gomes, de 12 anos, correu e usou o próprio corpo para proteger um dos amiguinhos, um menino de seis anos. Emerson acabou baleado e morreu.”

Esta é uma história chocante. Digo isto, porque ficamos paralisados diante de uma atitude imediata tomada pelo menino de 12 anos. De fato, é surpreendente essa doação, já que normalmente agimos em benefício próprio.

Trata-se, sobretudo, de uma atitude bastante condizente com as histórias românticas e seus heróis. Afinal, em um universo de pessoas que se dizem românticas, é só assim mesmo que vemos atitudes heróicas: na literatura do século XIX. Aliás, continuam levando, de fato, a sério essa atitude vanguardista de acabar com o que é tradicional e, portanto, deixamos de lado atitudes como esta.

Como uma contradição de valores, a Globo mostrou uma reportagem do ilustre herói Felipe Massa que se recuperava de seu acidente. A verdade é que a matéria foi tão interessante e pareceu tão mais nacional que, enquanto a do menino durara, no máximo, 2 minutos, a do herói automobilístico durou uns 10. Ainda que quantidade não seja sinônimo de qualidade, neste caso, tenho minhas dúvidas. Verdade seja dita, não acho que o telejornalismo global deveria se ausentar das notícias sobre o piloto, embora esteja convicta de que saber “o que ele vai fazer ao chegar ao seu lar depois de sua recuperação” é bastante demais. Mas, não tanto, se lembrarmos que o que dá IBOPE mesmo é estar diante da TV e torcer pelo piloto que ganha milhões e leva, aparentemente, o nome do Brasil financiado por uma empresa vermelhinha de origem italiana. Imagino, até mesmo, a indiganação de José Saramago com o falso uso da cor que tanto movimentou sua vida marxista.

Embora a palavra herói no dicionário tenha como significado “aquele que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem” - assim como a atitude do menino- , bem como “indivíduo notabilizado por suas realizações” – assim como a do menino e do F. Massa - , prefiro acreditar que ainda saberemos valorizar, de fato, atitudes dignas de méritos de atitudes pseudo-heróicas. Afinal, a literatura tem muitos heróis que poderiam estar bem encaixados na realidade universal, resolvendo ou, quem sabe, lutando por valores mais humanos e reais, bem distantes do mundo da verossimilhança.

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